terça-feira, 7 de maio de 2013

Aprender a esperar


Quando a Oli era pequena, com 1 ano e pouco, fomos almoçar com alguns amigos. Me preparei levando brinquedos, livro e um gibi, pois sabia que esses almoços costumam demorar.

Chegamos ao restaurante e a bichinha sentou feliz no cadeirão e logo começou a se esbaldar com o couvert e o suco (almoços com amigos nunca são na hora exata da refeição da criança e ela já estava varada de fome). Fizemos os pedidos e continuamos batendo papo enquanto ela ganhava um pedacinho de pão com manteiga, “experimenta esse filha, é com cenoura”, e assim em diante. Passado um tempinho resolvi que era uma boa ideia diminuir a quantidade de pão que ela estava ganhando para que ela almoçasse pelo menos um pouco do que havíamos pedido. Saquei os brinquedos da bolsa e ela se distraiu.

A comida chegou, começamos a comer e, depois de 3 garfadas a Oli estava satisfeita. Como ela estava ao meu lado eu ia distraindo ela com os brinquedos, apontando coisas no restaurante e “puxando” assuntos variados.

Quem já comeu assim sabe, é um saco. Você come sem perceber o que come, a comida esfria, você quer que aquele almoço termine logo antes da pequena despirocar e resolver que legal mesmo é ir pro chão, que a cadeira “tá dura” ou que ela só quer ir lá fora “só um pouquinho”.

Qual não foi a minha surpresa quando surge um celular com uma galinha pintadinha na tela cantando e alegrando a minha pequena terrorista. Terminamos o almoço tranquilamente.


Observando as mesas em volta me surpreendi com a quantidade de tablets em uso. Em uma mesa com dois casais as mulheres mexiam em seus aparelhos, e de vez em quando comentavam entre si algo que liam/viam.

Em outra mesa um casal com um bebê comia tranquilamente enquanto o pequeno assistia a um filme sentado no seu carrinho. Em outra, com uma grande família, uma criança de 5/6 anos brincava com algum joguinho no tablet em silencio. Só se manifestava quando perdia e nesses momentos era contida pelos pais, que ameaçavam tirar o aparelho caso ele continuasse a ficar tão bravo quando perdesse.

É obvio que o uso dos tablet e celulares é uma super mão na roda para os pais, mas ainda assim fiquei pensando no que essas crianças estavam aprendendo durante aqueles almoços em família.

Dia desses li “Crianças francesas não fazem manha” (de Pamela Druckerman, ed. Fontanar) e no livro a autora fala sobre a capacidade das crianças de esperarem.

Para abordar esse tema ela entrevistou Walter Mischel, responsável pelo teste do marshmallow no final dos anos 60 (o teste consiste em deixar uma criança sozinha em uma sala com um marshmallow e explicar a ela que aquele marshmallow é dela, mas que se ela esperar alguns minutos, até que o adulto volte sem comer o doce, ela ganhará mais um – na net tem videos incrivelmente engraçados com esse teste refeito). No livro Walter conta a Pamela que reparou que as crianças que conseguiam esperar os 15 minutos para então serem gratificadas com mais um marshmallow eram crianças capazes de se distrair com alguma coisa:



“As crianças que conseguem esperar facilmente são as que aprendem durante a espera a cantar uma musica para si mesmos, ou a mexer nas orelhas de um jeito interessante, ou a brincar com os dedos dos pés e transformar isso em um jogo” (Crianças Francesas não fazem manha, pag. 72).



Não conheço o trabalho do sr. Mischel, mas essa colocação dele me parece de uma lógica inegável. Quantas vezes não estamos na fila do banco, na sala de espera do médico ou coisa parecida e acabamos inventando maneiras de passar o tempo? Eu conheço gente que conta quadros, madeiras no piso, conheço gente que batuca, gente que inventa histórias para as pessoas à sua volta, que canta e até quem fala sozinho. O fato é que atualmente vemos mais pessoas olhando para a tela de um celular do que observando a sua volta e isso me parece uma perda em muitos momentos. Será que em prol do nosso conforto não estamos privando os nossos filhos de aprenderem a se entreter sem a ajuda de artifícios?



Aqui em casa usamos sim o iphone em alguns momentos com a pequena. Quando ela acorda às 6 da manhã e ainda estamos vesgos de sono é uma ótima maneira de esticar a preguicinha na cama com ela ao nosso lado. Selecionamos uns clipes legais, como Palavra Cantada, e ganhamos uns minutos. As vezes só de ficar olhando as fotos e videos que fazemos deles ela já se distrai.

Acho que pode ser uma boa ferramenta para momentos de apuro. Acredito, apenas, que o grande problema é quando a relação com a tela supera a humana.



E você? Ensina a esperar? Como você regula o uso dessas “feitiçarias modernas” (com você e filhos)?

4 comentários:

  1. Concordo que as ferramentas tecnológicas são uma mão na roda em momentos,mas assino em baixo dos que acreditam que perdemos muito da relação pais-filhos-irmãos-mundo-universo quando esse uso não é bem aplicado.
    Eu acredito que as refeições para os pequenos,alem de alimentar fisicamente,são sobretudo um momento de inserção social,portanto tablets,celulares e cia LTDA ficam de fora.
    As vezes é meio caótico,perdemos a delicia da conexão com o alimento,o papo,mas ganhamos vinculo,criatividade e cumplicidade.
    Esperar é um verbo(e uma atitude)que ainda estamos aprendendo a conjugar com os eles.

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  2. Li,
    Afinal, vc consegue deixar a Oli esperando vocês terminarem de comer sentandinha na mesa?
    Se sim, me passe a dica, pela mor!!!!
    Vou comprar o livro das crianças francesas comportadas, estamos passando por turbulencias!!!! rsrsrsrs

    bjbjbj

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    1. Pois é Stellinha, a gente não vai muito em restaurante né... Mas eu elaborei uns critérios pra escolher o lugar:
      se for demorado, tem que ter uma area que a criança possa circular. Fomos em uma pousada e foi assim. Sorte que o Tito tava junto e bancou o babá...
      Ou o atendimento precisa ser agilizado... Ai distraio com suco, couvert, chega a comida, come com a gente e consigo enrolar um pouco no final.
      Tento muito ensinar ela a esperar nas refeições e no dia a dia até temos nos saído bem. Mas em eventos sempre tem avô, tio, tia que agita a bichinha pra ela querer sair do lugar e ficar sassaricando... rs.

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  3. Nossa rsrsrs Bom , também não vamos com frequência a restaurantes mas quando isso acontece ja passamos por algumas fases . Com a Luna ( ainda sem o Antonio ) era mais lúdico , no sentido de desenhos e brincadeiras compartilhadas , ela sempre gostou muitoooo ( graças a Deus ) de livros então lapis de cor e livrinhos seguravam a onda ! Não que momentos de quero ir pra casaaaa não acontecessem rsrs. Ja com os 2 e os tempos mais modernos , parece incrível falar assim mas 5 anos faz uma diferença enorrrme no lance moderno-eletronico rsrsr começamos sim a levar filminhos ( os ivros e lapis continuavam na mochila ) mas os filmes davam mais certo rsrs . Cresceram um pouco e la veio o I-pad , Iphone e confesso que por um periodo foram literalmente minhas babas eletrônicas em algns momentos. A Luna começou a mexer num I-pad com 6 anos , o Antonio com 3...os 2 me dão um banho em tecnologia kkkkk . Mas essa fase meio que passou sabe , agora os 2 estão super curtindo LEGO ( a Luna esta devorando os livros do Harry Potter rsrsr) e levam brinquedos mesmo quando saimos , o que me deixa bem feliz , pois apesar de termos a mão os eletrônicos achamos o cumuloooooo quando uma familia mal se olha na mesa ( affff) E como vc disse , escolhemos os lugares a dedo , comida fria e mal humor em restaurante não da ;)

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